“Tô me perguntando: qual é o sentido de tudo isso?”

Essa foi a frase que mais me doeu ouvir nos últimos tempos. E olha que não saiu da boca de uma pessoa dramática ou preguiçosa. Veio de uma mulher trabalhadora, mãe, que tá dando tudo de si… mas parece que o mundo só cobra mais.

O nome dela é Vanessa. E quando vi o desabafo dela num vídeo, confesso: parecia que ela tava contando a vida de tantas de nós. Talvez até a sua.

Ela vive de salário em salário, sem conseguir respirar. E o mais angustiante: ela tá fazendo tudo certo. Trabalha, corre atrás, tenta ser forte pra cuidar da casa, dos filhos, das contas, da vida. E mesmo assim… não sobra. Não dá. Não anda.

“Tô cansada de viver assim”

No vídeo, ela conta que tava esperando o carteiro entregar um cheque. Sim, um cheque em papel mesmo. Que ela já esperava fazia semanas. E por quê? Porque precisava correr pro banco, depositar, torcer pra cair logo e tentar tirar pelo menos uns trocados.

Mas com os descontos automáticos, os juros, os boletos vencidos… sabe quanto sobrou pra ela? Sessenta reais.

Sessenta.

Com isso, ela tinha que fazer render comida, resolver pendência, pensar no amanhã. Detalhe: ela não consegue fazer uma compra de mercado decente há mais de um mês. A janta? Miojo e queijo ralado. Todo dia. Porque é o que tem.

Contas atrasadas, dívidas e nenhuma folga

Vanessa tem uma conta de luz que já passou de R$1.500. A fatura do celular tá vencida. O marido teve que entregar o último salário inteiro pra conseguirem pagar a prestação da casa, com duas semanas de atraso.

E sabe o pior? Em menos de duas semanas, tem mais uma parcela vindo aí. É como se o dinheiro chegasse só pra desaparecer na mesma hora.

Aí vem o desabafo que cortou meu coração:

“Eles podiam mandar meu salário direto pras contas, né? Porque não faz diferença nenhuma passar por mim.”

“Se eu não pagar o acampamento de verão, não posso trabalhar”

E como se não bastasse, ela ainda tem que pensar nas férias escolares. Porque a escola vai parar, e alguém tem que cuidar das crianças. Se ela não conseguir pagar o acampamento (que custa entre R$3.500 e R$4.000), vai ter que ficar em casa — e aí, adeus trabalho.

A escolha é cruel: ou ela paga pra poder continuar trabalhando, ou fica em casa e perde a única renda fixa. Não tem plano B.

E ainda tem os empréstimos e a saúde mental

Vanessa também tem um empréstimo pessoal que já ultrapassa os R$40 mil. Tá com parcelas atrasadas há sete meses.

Ela faz bicos. Vende o que pode. É pintora e carrega as tintas e ferramentas no carro — mas até aí teve que interromper um serviço porque não tinha dinheiro pra comprar um rolinho novo.

E mesmo assim, o mundo cobra. Cobra calma. Cobra compostura. Cobra força.

Ela diz, quase sem voz:

“Eu acordo, trabalho, tento fazer o meu melhor… mas parece que não é suficiente. O que mais esperam de mim?”

O problema não é só dela

E é aí que a gente se dá conta do tamanho da ferida. Vanessa não tá sozinha.

De acordo com pesquisas recentes, quase metade das famílias brasileiras vive exatamente assim: na corda bamba, sem conseguir passar do básico. Milhões de mulheres trabalham o dia inteiro e ainda precisam escolher entre pagar a luz ou comprar carne.

O nome bonito disso é “viver de salário em salário”. O nome real? Sobrevivência.

Não tem reserva, não tem respiro, não tem margem de erro. Qualquer imprevisto vira uma crise.

Quando até fazer orçamento parece piada

Você já tentou montar planilha de gastos quando não tem nem o que cortar? É isso que muita gente vive. O pessoal adora dizer “tem que se planejar melhor”, como se planejamento pagasse boleto. Às vezes, não é falta de organização. É falta de renda.

E aí, viver vira um eterno malabarismo. Emocional, físico, mental. E invisível.

Então… qual é o sentido?

Essa pergunta que Vanessa faz ecoa forte: qual é o sentido de tanto esforço se a gente nunca consegue sair do aperto?

Eu não tenho todas as respostas. Mas sei que perguntar isso não é fraqueza. É sinal de exaustão. De humanidade. De quem já chegou no limite, mas ainda tá tentando achar alguma luz.

Às vezes, o que a gente mais precisa é parar de romantizar a resiliência e começar a cobrar mudança real. No sistema. No salário. Nas condições mínimas de vida.

Enquanto isso, se você se identificou com a Vanessa, saiba: você não tá sozinha. E sua luta não é vergonha. É prova da sua força, sim. Mas também do quanto o mundo precisa cuidar melhor de quem cuida de tudo.

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